Foi das imagens que mais chamaram minha atenção, a que mostra o Planeta Terra submetido à força da gravidade que a Nasa divulgou nesta semana. Fiquei olhando para ela por longos minutos, confesso, embevecido, notando suas cavidades, reentrâncias e protuberâncias. Muito prazer, Planeta Terra! Quarenta anos depois de ter nascido, eu era apresentado à Terra nua e crua. Um geóide, como dizem os cientistas, simulando as forças gravitacionais que interferem na massa terrena. Aquela imagem da Terra de outrora sempre me incomodou. Perfeita demais. Azul demais. Na minha poesia infantil, achava que a Criação tinha produzido um corpo celeste com a destreza de quem produz bolas de sinuca. Lixou daqui, ajustou ali, ainda deu um polimento e pronto. Lá estávamos nós, brilhando e redondinhos no Universo sem fim. Havia, no entanto, uma grande contradição - os habitantes daquela belezura não são assim. Olhando a nossa Terra de verdade "girar", lembrei de Galileu. O cara quase queimou porque disse que nós não estávamos no centro do universo. Imagina se ele ainda afirmasse - pessoal, ainda por cima, somos imperfeitos! Fariam picadinho dele. Aos menos, nos tempos de hoje, ninguém pensou em queimar o piloto soviético Yuri Gagarin quando declarou que a Terra era azul e depois os astronautas americanos quando, a bordo da Apollo, em 1969, disseram que a Terra era redonda, azul e pequena. Americanos...hum...sempre desconfiei do aspecto cinematográfico daquela imagem perfeita. Historicamente, descobri que desde a antiguidade já afirmavam que a terra era "redonda". Esrastótenes nasceu em 270 AC e calculou o cumprimento da circunferência da Terra - errou em 70 km o que os satélites comprovaram na Era Moderna. Mas, de certa forma, errou mesmo no "redonda". Por fim, confesso que ver a Terra torta me fez feliz - ela, parecendo uma pedra perdida no universo, atraída a uma outra pedrona amarela de luz e fogo que também não deve ser redondinha como desenhamos para nossos filhos. Finalmente, podemos deixar de lado as máscaras que pretendem que sejamos "perfeitos". Poderemos até sonhar em ser bola de sinuca um dia. Acertar nossas diferenças, reentrâncias e imperfeições. Ao ver aquela imagem, achei que finalmente poderemos vencer o ego. Filosoficamente, o que Galileu tentou dizer servia para entender também que o mundo não gira ao redor do nosso umbigo. A Nasa agora veio mostrar que, também por comparação, por mais perfeitos que tentemos ou aparentemos ser, ainda seremos frações imperfeitas em busca de perfeição. Então entendi nossa trajetória pelo Universo. Eis a verdade - somos uma fração do universo que explodiu ao nascer e se remodela dia a dia. Se nascermos perfeitos, polidos, que sentido há de nascer? Afinal, essa pedrinha feiosa que somos bóia ao redor do sol. Quem ou como se criou a Lei da Gravidade? Estou certo que por trás disso tudo há a força da perfeição. Divina. O Criador, nos dando pistas que, para chegarmos a ela, precisaremos lapidar nossas próprias pedrinhas... No final, já não mais invejei Saturno e Júpiter, grandes, pomposos e redondos (duvido!). Foi quando um último pensamento apareceu - tenho certeza que a lua, essa mesma que serve de inspiração perfeita para o amor romântico perfeito que movimenta sonhos de felicidades perfeitos, além de esburacada, também é torta!
Wagner de Assis Pedro Leopoldo, 3 de abril de 2011
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